Não arrumaste a sala. Havia pedrinhas e areia desde o hall de entrada até à sala. Os cortinados esvoaçavam numa corrente de ar que me assustava. Nem conseguia ver o que deixei acontecer. A praia invadiu o meu espaço, a casa de banho transbordava e eu perdia o medo de avançar. Sentia-te perto, como se me cercasses ou rondasses a casa. Não te via. A cama estava desfeita mas eu, há muito tempo que não lá dormia. Não penses que a minha vida parou quando te foste embora, mas habituei-me tanto ao teu mau dormir que agora já nada me embala. A inexistência de vizinhos, que em tempos nos agradou, agora que não estás estranha-se. Desespero por os ver por aí, à janela , a comentar as nossas vidas ou até a escutar às paredes, hoje queria isso tudo.
Éramos muito novos, eu sei, mas tínhamos tanto para dar. Casámos e eu ainda era menor, nada me assustava, era dona do mundo porque o meu mundo eras tu. Acalmavas-me dizendo que nada podia correr mal, hoje rio-me da tua ingenuidade. Nada de mal? Seu estúpido. Devias ter calculado que tudo de mal podia acontecer, eu conhecia-te mas não estava pronta para entrar na tua intimidade, nem a permitir que invadisses a minha.
Quando o Miguel nasceu já te portavas como um homem, e apercebeste-te de que a nossas vidas tinham que mudar. Eu estava radiante, o nosso bebé era lindo e eu passeava-o de uma ponta à outra da casa, apresentava-lhe as flores da praia, o mar e o céu porque não queria que lhe escapasse nada. Houve um dia que o fotografei muito, foi no dia em que ele disse “mamã” pela primeira vez. Ganhei coragem e enviei-as aos nossos pais, mas eles nunca responderam. O Miguel foi crescendo e eu também, tu continuavas seguro de ti, esquecendo-te de que ele também era teu filho. Era uma criança muito alegre mesmo que nunca tivesse falado com mais nenhum menino da sua idade, ele não se importava. Sempre brincou muito comigo quando o pai ficava fora por muito tempo. O nosso pequenino passava tardes de volta dos lapinhos de cera e de algumas – poucas tintas que me sobraram, mas ele estranhou o toque da campainha. Nunca ela tinha soado tão alto. Eram os meus pais. Lavaram-se em lágrimas enquanto que as minhas por eles já estavam secas há muito tempo. Não falaram muito comigo, porque o Miguel puxou todas as atenções para ele, não aguentei a ausência de sinceridade para comigo e mandei o Miguel para o quarto brincar. Os meus pais já não queriam ouvir nada de mim, mas perguntaram pelo homem que levou para longe a “menina dos olhos” deles – o Pedro. Respondi rapidamente que ele estava bem, que essencialmente me fazia bem e ainda, educadamente pedi que se fossem embora.
Foram. Não sabia porque tinha mentido. Não sabia porque os tinha mandado embora quando só queria um bocadinho de colo e atenção, mas já nem isso eles me sabiam dar. O Pedro não aparecia em casa há dias e o Miguel começava a bombardear-me inocentemente com perguntas. Já não queria o meu filho, porque deixou de fazer sentido estar com ele, e, sem ti.
Éramos muito novos, eu sei, mas tínhamos tanto para dar. Casámos e eu ainda era menor, nada me assustava, era dona do mundo porque o meu mundo eras tu. Acalmavas-me dizendo que nada podia correr mal, hoje rio-me da tua ingenuidade. Nada de mal? Seu estúpido. Devias ter calculado que tudo de mal podia acontecer, eu conhecia-te mas não estava pronta para entrar na tua intimidade, nem a permitir que invadisses a minha.
Quando o Miguel nasceu já te portavas como um homem, e apercebeste-te de que a nossas vidas tinham que mudar. Eu estava radiante, o nosso bebé era lindo e eu passeava-o de uma ponta à outra da casa, apresentava-lhe as flores da praia, o mar e o céu porque não queria que lhe escapasse nada. Houve um dia que o fotografei muito, foi no dia em que ele disse “mamã” pela primeira vez. Ganhei coragem e enviei-as aos nossos pais, mas eles nunca responderam. O Miguel foi crescendo e eu também, tu continuavas seguro de ti, esquecendo-te de que ele também era teu filho. Era uma criança muito alegre mesmo que nunca tivesse falado com mais nenhum menino da sua idade, ele não se importava. Sempre brincou muito comigo quando o pai ficava fora por muito tempo. O nosso pequenino passava tardes de volta dos lapinhos de cera e de algumas – poucas tintas que me sobraram, mas ele estranhou o toque da campainha. Nunca ela tinha soado tão alto. Eram os meus pais. Lavaram-se em lágrimas enquanto que as minhas por eles já estavam secas há muito tempo. Não falaram muito comigo, porque o Miguel puxou todas as atenções para ele, não aguentei a ausência de sinceridade para comigo e mandei o Miguel para o quarto brincar. Os meus pais já não queriam ouvir nada de mim, mas perguntaram pelo homem que levou para longe a “menina dos olhos” deles – o Pedro. Respondi rapidamente que ele estava bem, que essencialmente me fazia bem e ainda, educadamente pedi que se fossem embora.
Foram. Não sabia porque tinha mentido. Não sabia porque os tinha mandado embora quando só queria um bocadinho de colo e atenção, mas já nem isso eles me sabiam dar. O Pedro não aparecia em casa há dias e o Miguel começava a bombardear-me inocentemente com perguntas. Já não queria o meu filho, porque deixou de fazer sentido estar com ele, e, sem ti.
1 comentário:
O melhor que já li de ti. É incrível mesmo. Já tinha saudades da tua escrita, e em português. Continua, que chegas ao céu com as tuas palavras.
André.
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